quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sistema elétrico pode migrar para corrente contínua?

 
Sistema elétrico de corrente contínua
Os pesquisadores querem ver o ocaso das redes de distribuição de corrente alternada.[Imagem: Cortesia CUNY]

Tesla versus Edison

No final do século XIX, travou-se uma batalha que definiria toda a atual infraestrutura elétrica mundial.

De um lado, Thomas Edison propunha a adoção da corrente contínua (CC); do outro, Nikola Tesla propunha a adoção da corrente alternada (CA).

Tesla venceu. Contudo, apesar de sua genialidade, ele nunca foi bem-sucedido nos negócios, e coube a George Westinghouse, entre outros, transformar suas ideias em projetos práticos e lucros.

Agora, três pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, acreditam que é hora de refazer esse trajeto e lançar um novo projeto, voltado não apenas para a renovação da economia e a geração de lucros, mas também para garantir o bem-estar das populações e gerar menos impacto para o meio ambiente.

Para isso, eles defendem a conversão de toda a rede de distribuição elétrica para corrente contínua - o tipo de energia disponibilizado pelas pilhas e baterias.

Conversão para corrente contínua

"Seu laptop roda com alguns poucos volts de corrente contínua, que precisam ser convertidos de corrente alternada," afirma Gregory Reed, que está propondo a ideia juntamente com seus colegas Bopaya Bidanda e John Camillus.

Mas não são só os computadores: praticamente todos os aparelhos eletrônicos, em casa e no escritório, possuem uma "fonte de alimentação" necessária para receber a corrente alternada da rede elétrica e transformá-la na corrente contínua necessária para alimentar seus circuitos.

"Pouquíssimos itens de hoje exigem corrente alternada trifásica. O uso e o desenvolvimento do mix energético de hoje torna a transição para a corrente contínua mais sensata e viável para a disponibilização de energia no futuro," acrescenta Reed.

Para isso, ele e seus colegas estão trabalhando em sistemas de corrente contínua de alta tensão, e planejam testá-los em microrredes de distribuição de alcance residencial e industrial.

Os testes iniciais serão feitos em condomínios nos EUA e na Índia.

Sistema elétrico de corrente contínua
"A corrente contínua é verde. A corrente contínua beneficia o meio ambiente. A geração local de energia renovável é naturalmente CC, não CA." [Imagem: Cortesia UC3M]

Corrente contínua é verde

O trio defende o potencial de uma rede de distribuição de corrente contínua para melhorar o nível de vida das populações mais pobres, afirmando que essa tecnologia permite combinar melhor o crescimento econômico com os benefícios sociais.

Isto porque, como a maior parte do nosso consumo é de corrente contínua, é muito mais fácil e barato desenvolver sistemas de armazenamento de energia fora da rede, em nível local, para beneficiar pequenas comunidades e romper com a tradição das grandes usinas.

Por exemplo, painéis de energia solar podem armazenar parte da energia em baterias e fornecê-las diretamente às casas, sobretudo em comunidades de baixa renda.

Segundo Bopaya Bidanda, isto pode "realmente mudar a vida de uma aldeia. Pode ser transformador.

E mesmo olhando para a transmissão de longa distância, ela está começando a se tornar uma alternativa mais atraente do que a corrente alternada."

"A corrente contínua é verde. A corrente contínua beneficia o meio ambiente. A geração local de energia renovável é naturalmente CC, não CA.

E a iluminação e os motores CC são muito mais eficientes. Há um enorme potencial para as empresas que se aproveitarem das economias e incentivos governamentais oferecidos pela CC," acrescentou John Camillus.

Os três pesquisadores planejam demonstrar suas ideias na prática instalando uma microrrede autossuficiente, contando com painéis solares, turbinas eólicas de pequeno porte, células a combustível e geradores a gás.

"Nós não estamos necessariamente dizendo que Edison estava certo. Ele não estava no seu tempo.

Mas ele estaria hoje," conclui Reed.

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domingo, 26 de outubro de 2014

A democratização do mercado de opinião

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma".  Joseph Pulitzer



A coluna de sexta-feira especulava sobre a possibilidade do terceiro turno – a tentativa de ganhar no tapetão as eleições. Foi escrita antes da divulgação da capa da revista Veja, com a informação de que o doleiro Alberto Yousseff havia acusado Dilma Rousseff e Lula de participarem dos esquemas da Petrobras.

Na reportagem, limitava-se a colocar uma suposta pergunta do delegado ou procurador (sobre quem mais sabia do esquema), uma suposta resposta do doleiro (que Dilma e Lula sabiam). Só: uma frase apenas. Na sequência, a revista informa que o delator não apresentou nenhuma prova e nem lhe foi exigida. No mesmo dia, em entrevista ao insuspeito O Globo, o advogado do doleiro garantiu não ter havido o diálogo.
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É a enésima tentativa de grupos de mídia de tentar influir em eleições através de notícias falsas ou deturpadas. Em toda eleição, sempre há um festival de denúncias que surgem, explodem e desaparecem como se nunca tivessem ocorrido.
A maioria absoluta desses factoides desaparece no tempo, sem que nada ocorra com os divulgadores de notícias falsas.
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Essas manipulações trazem à tona a discussão sobre o aprofundamento da democracia.
Como reza a Constituição, todo poder emana do povo. As discussões, formação de opinião, direito à informação se dá no chamado mercado de opinião. Em muitos aspectos, trata-se de um mercado similar a outros mercados. Quando existe competição, o consumidor é beneficiado; quando não existe concorrência, impõe-se ao consumidor qualquer produto por qualquer preço. No caso da informação, apenas a parte da notícia que interessa ao emissor.
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Desde o aparecimento de tecnologias de transmissão, especialmente após o advento da TV aberta, em todo mundo democrático os grupos de mídia tornaram-se os personagens mais influentes do mercado de opinião, mais do que as religiões, os sindicatos e os próprios partidos políticos.

Cada salto tecnológico – telégrafo sem fio, telefonia, radiodifusão, televisão – acabava enquadrado em monopólios públicos, entregues aos grupos com maior influência política.

Para amenizar o extraordinário poder das emissoras, a concessão do espaço público para empresas de mídia veio acompanhada da exigências de se respeitar a pluralidade cultural, religiosa, política, de não se alinhar com candidatos ou partidos políticos.

Na prática, não ocorreu. Não apenas no Brasil, mas em outras democracias de mercado ocorreram abusos e interferências indevidas de grupos de mídia, que acabaram se tornando o principal ator político nas democracias.

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O advento da Internet pela primeira vez trouxe a competição ao mercado de opinião. Não havia mais as restrições à entrada de novos players – como no rádio e na TV. Além disso, todos os atores sociais – de grupos de mídia a cidadãos individuais – passaram a atuar no mercado de opinião dentro da mesma plataforma tecnológica.

A perda de eficiência cada vez maior das denúncias e dos factoides jornalísticos é sinal desses novos tempos. Em parte, devido ao rebate das redes sociais. Em parte, pelos exageros das denúncias não fundamentadas.


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Um dos desafios do próximo governo será atuar com ferramentas de mercado, aplicando regras de direito econômico e de aprofundamento da democracia, definindo limites à concentração da propriedade do setor.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

SP: por trás da falta d’água, privatização e ganância

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Geraldo Alckmin, governador de São Paulo
 
Obcecada por lucros e bolsa de Nova York, empresa de saneamento abandonou investimento em mananciais, até deixar população à míngua!
 
Por Lúcia Rodrigues, no Viomundo
 
A falta de água em São Paulo não pode ser atribuída à ausência de chuvas no último período. A principal causa para o esvaziamento do sistema Cantareira, maior reservatório da região metropolitana, se deve à falta de investimentos do governo do Estado na ampliação de novos mananciais.
 
Essa é a conclusão do professor aposentado da Escola Politécnica da USP e engenheiro de hidráulica e saneamento Julio Cerqueira Cesar, um dos maiores especialistas na área.
 
Ele explica que estiagens são comuns em outros países e nem por isso a população fica sem água potável nas torneiras.
 
“O que está acontecendo em São Paulo, acontece em qualquer lugar do mundo. Faz parte do ciclo hidrológico. A chuva não é a culpada. O problema é que o sistema de abastecimento de água tem de ter a capacidade de suprir essa variação na precipitação, e isso não ocorreu aqui”, enfatiza.
 
“O governo não investiu na ampliação de mananciais, são os mesmos de 30 anos atrás. Nesse período, a população cresceu em 10 milhões de pessoas (saltou de 12 milhões para 22 milhões).
 
Os mananciais existentes não são capazes de atender a essa demanda. Essa é a grande causa da falta de água em São Paulo”, ressalta.
 
A falta de investimento na ampliação de novos mananciais tem explicação. Segundo o professor Julio, até o início da década de 1990, o objetivo da companhia era atender a população com saneamento básico, para manter a saúde pública em níveis adequados.
 
“Até 90, a companhia era comandada por engenheiros sanitaristas, depois disso a Sabesp aderiu ao lucro de corpo e alma. Deixou de se preocupar com seus usuários e passou a se preocupar com seus acionistas.
 
Hoje quem comanda a Sabesp são economistas e advogados. O objetivo da empresa mudou. É para dar lucro para os acionistas.”
 
Para o geólogo e deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), líder da minoria (PT – PSOL – PCdoB) na Assembleia Legislativa de São Paulo, a lógica do lucro na Sabesp é anterior à década de 90, e remonta à época da ditadura militar.
 
“Vem desde o Maluf, mas os tucanos intensificaram a mercantilização da água ao abrir o capital da Sabesp em Bolsa. Isso agudizou o problema, porque os acionistas não querem abrir mão do lucro para se fazer os investimentos necessários, por exemplo, na ampliação dos mananciais.”
 
Apesar de não ter sido privatizada nos moldes tradicionais, na prática a Sabesp deixou de ser pública. Em 2000, a companhia teve inclusive seu capital acionário aberto na Bolsa de Nova York.
 
“Com a abertura do capital, a companhia deixou de ser uma empresa de saúde pública e virou um balcão de negócios. Só se preocupa com o lucro dos acionistas, que estão muito satisfeitos”, afirma o professor Julio.
 
Com faturamento anual na casa dos R$ 10 bilhões e lucro líquido em torno de R$ 2 bilhões, a Sabesp tem repassado anualmente a seus acionistas aproximadamente R$ 500 milhões.
 
“Os acionistas estão dando risada, enquanto os usuários choram”, ironiza o professor, ao se referir à falta de água que atinge os moradores da região metropolitana de São Paulo.
 
O professor conta que dez anos após o capital da companhia ter sido aberto na Bolsa de Nova York, a Sabesp foi premiada nos Estados Unidos por ser a empresa que mais se valorizou no período. “Sucesso financeiro e fracasso completo em saúde pública…”, sentencia.
 
Lucro X Investimento
 
Para ele, a abertura das ações na Bolsa de Nova York é um dos principais motivos da falta de investimento na ampliação dos mananciais para o abastecimento de água da população de São Paulo. “Não investe porque só quer ter lucro para repassar aos acionistas".
 
Estar na Bolsa de Nova York é sintomático. A Sabesp entrou na lógica do lucro, deixou de se preocupar com água e saneamento básico, para se preocupar com seus acionistas.”
 
Para o ex-governador do Paraná, senador Roberto Requião (PMDB-PR), “o aumento da tarifa e a fantástica distribuição dos lucros nas bolsas” são consequências da privatização do interesse público.
 
 “O objetivo não é mais o saneamento básico e a purificação da água, mas dar lucro aos acionistas. Transformaram a água numa commodity [mercadoria]”, critica.
 
Desperdício
 
Um dos problemas levantados pelo técnico para o agravamento da crise é o desperdício de água pela própria Sabesp, que hoje ultrapassa os 30% do volume produzido, segundo dados da Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp). Esse percentual de desperdício é suficiente para abastecer uma cidade como Campinas.
 
Os vazamentos em grande medida são fruto da política adotada pela companhia, que optou por terceirizar parte de seus serviços. “Isso tem reflexo na qualidade do serviço prestado.
 
Não dá pra comparar o trabalho de um funcionário da Sabesp com o de uma (empresa) terceirizada. Quem é terceirizado não recebe a mesma formação que nós, a rotatividade dessas empresas é muito grande.
 
Por isso, não é raro que logo depois de se instalar uma rede, ela esteja vazando”, explica.
Ele revela como essa política também pode aumentar drasticamente o valor da conta de água.
 
“Quando falta água, entra ar nos canos e o hidrômetro começa a girar que nem louco. Isso faz com que a conta de água aumente muito, sem a pessoa saber o porquê. Se são técnicos da Sabesp, fazem ventosas no sistema para retirar esse ar, mas os terceirizados não fazem isso…”, lamenta.
 
Racionamento vai perdurar
 
Para o professor Julio, a população vai pagar pelo erro do governo do Estado de São Paulo. Ele considera inevitável o racionamento no curto e médio prazo.
 
O próximo ano deve ser ainda mais difícil. Ele prevê que o racionamento dure em torno de dois anos.
 
“Se (Alckmin) quisesse resolver tecnicamente o problema, já deveria ter começado o racionamento em dezembro do ano passado e tomado uma série de providências, mas não fez isso.
 
O governador quer empurrar o problema para depois das eleições.”
 
“A boa notícia é que temos água em condição de ser trazida para as cidades, o problema é que essas obras demoram muito para serem concluídas.”
 
O professor se refere à bacia hidrográfica localizada no Vale do Ribeira. “Lá há pouca gente e uma quantidade enorme de água. Não vai afetar em nada a vida dos moradores.”

outraspalavras.net

Aplicativo mostra a origem da água que abastece os moradores de São Paulo

É possível saber a origem da água em toda a região materopolitana de São Paulo.
É possível saber a origem da água em toda a região materopolitana de São Paulo.

Você sabe de onde vem a água que você consome? São Paulo enfrenta a pior crise hídrica da história, mas nem todos conseguiram entender a gravidade deste problema. Para tornar a situação mais palpável, o Instituto Socioambiental desenvolveu um aplicativo que informa o manancial de onde a água vem e qual é a situação do reservatório.
A ferramenta conta com um banco de dados que abrange todas as cidades que formam a região metropolitana de São Paulo. Para rastrear o reservatório correspondente à água que é entregue na casa, o morador precisa apenas acessar o site e informar o CEP da residência. Automaticamente o mapa já faz a ligação do endereço com o respectivo manancial.

Imagem: Reprodução
As informações não param no nome. O internauta fica sabendo quais são os rios que compõem o sistema de seu abastecimento, a área do reservatório, a capacidade de produção, quantas pessoas são abastecidas por essa mesma fonte e quais são os níveis de ameaça a que o sistema está sujeito.
Na apresentação do aplicativo o Instituto ressalta a importância da ferramenta para transmitir informações e apresentar indicadores sobre o saneamento nos municípios. “O ‘De onde vem a água’ tem como objetivo aproximar as pessoas de suas fontes de água e ampliar o conhecimento sobre a situação de abastecimento”, diz o site.
O Instituto também tirou foto das situações atuais dos principais reservatórios da Grande São Paulo. Veja abaixo algumas dessas imagens.

Reservatório Jaguari - Sistama Cantareira/Foto: Marussia Whately/ISA

Reservatório Atibainha - Sistema Cantareira/Foto: 
Marussia Whately/ISA

Represa Taiaçupeba, Alto Tietê - Adriano Fagundes/ISA

Represa Guarapiranga/Foto: 
Adriano Fagundes/ISA
Redação CicloVivo