terça-feira, 25 de junho de 2013

ENTREVISTA A MARCOLA E O EFEITO BUMERANGUE DA VIOLÊNCIA

Amigos, Amigas, boa noite! Após conversas com colegas sobre a situação das manifestações, uma dela me chamou atenção mais tarde...relatou-me que à caminho do trabalho, testemunhou adolescentes (classe C baixa), com vários pneus, levando-os para o centro da Rodovia tipo BR, Artéria mesmo! E ateando fogo aos pneus, pararam o transito...

Mais tarde, saindo eu do trabalho e também, trafego em parte,  por outra rodovia tipo BR e pouco mais a frente o transito parado, e no letreiro luminoso, informava manifestação bem a frente, creio que uns 20km a frente.

Estes fatos me fizeram pensar em paralelos, tempos atrás, retaliações criminosas em SP, Santa Catarina, com cenas do tipo, depredações, ataques a sociedade como uma afronta e demonstração cabal de sua organização e poder!

Além de Jovens do MPL, vimos a chegada de bandos de ativistas depredadores, e tal!

Lembrei-me também, da entrevista simulada ao Líder Marcos Camacho - o  Marcola, e a trouxe para aqueles que ainda não a leram e aos que já leram, repensem sobre esta ficção.

Bem como , a mesma, serve como base para estudo de Rocio Castro Kaustener, que fragmenta a fala do "Marginal" e as traduz sob a luz de teorias analíticas do comportamento humano perante as sociedades em constantes transformações.



ENTREVISTA A MARCOLA E O EFEITO BUMERANGUE DA
VIOLÊNCIA

Rocio Castro Kaustener

"RESUMO: Este trabalho, inspirado no texto, amplamente difundido pela internet, do cineasta
Arnaldo Jabor , simulando entrevista ao líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) Marcola, tem
como objetivo trazer uma reflexão sobre a violência na sociedade brasileira em particular, mas
também na sociedade globalizada em geral. A reflexão é feita à luz das teorias que falam da
construção das identidades como negação das diferenças que ameaçam a normalidade fictícia sobre
a qual têm se assentado, ao longo da história, os diferentes sistemas de dominação - patriarcado,
colonialismo e capitalismo."

Nota minha (RB): abaixo o link para lerem o trabalho de Rocio ou baixarem, caso prefiram.

Link:  entrevista a Marcola e o Efeito Bumerangue da Violência

Reflitam sobre as sementes plantadas!

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Entrevista a Marcola (simulacro)

Arnaldo Jabor. Jornal O Globo, segundo caderno, maio de 2006
‘Você é do PCC?”
— Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam
durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio:
migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... Que
fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos
desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”,
essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo...
Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...
Mas... a solução seria... 
Solução? Não há mais solução, cara... A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho
das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só
viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma
imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria
de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática
secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão
agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma
reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias
municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios...) E tudo isso custaria
bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou
seja: é impossível. Não há solução.
Você não têm medo de morrer? 
Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me
matar... mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem
cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e,
no meio, a fronteira da morte, a única fronteira.

Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um
drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa
vala... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é:
chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né?
Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... mas meus soldados todos são estranhas
anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados.
Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto
analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da
cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da
Justiça”? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera
uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a
merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de
um grande erro sujo.
— O que mudou nas periferias?
Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com
40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá
ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no
“microondas”... ha, ha... Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos
métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês,
em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados.
Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de
humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós
fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora,
somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que
passa o surto de violência.
— Mas o que devemos fazer?
Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem
generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso?
O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está quebrado,
sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos,
empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz,
“Sobre a guerra”. Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas
brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com
a gente, só jogando bomba atômica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também “umazinha”,
daquelas bombas sujas mesmo... Já pensou? Ipanema radioativa?
--- Mas... não haveria solução?
Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a “normalidade”. Não há mais
normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou
ser franco... na boa... na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e
vocês... não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução.
Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino
Dante: “Lasciate ogna speranza voi che entrate!” Percam as esperanças. Estamos todos no inferno.

Uma Pergunta: Será que estes homens políticos do mal, encarcerados e livres não tem nenhuma participação nestes eventos ?

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