segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A transição energética: aberta, indefinida e indeterminada

Duas questões fundamentais caracterizam o atual contexto energético e sua evolução futura: a segurança energética e a mudança climática.
A garantia do suprimento de energia necessário ao crescimento econômico e ao bem-estar da sociedade e a mitigação do processo de mudança climática mediante o controle do aquecimento global via a redução das emissões de gases de efeito estufa são objetivos drasticamente interdependentes e contraditórios.
Interdependência e contradição essas que nascem do papel crucial desempenhado pelos combustíveis fósseis tanto na segurança energética quanto na mudança climática.
Esses combustíveis representam, por um lado, 80% do consumo mundial de energia e, por outro, 80% das emissões de CO2 de origem humana.
Dessa forma, reduzir as emissões de CO2 tem um custo energético, representado pela indisponibilidade de um recurso chave para o atendimento das necessidades energéticas. Em contrapartida, atender essas necessidades mediante o uso intenso desse recurso tem um custo ambiental, representado pela explosão das emissões, intensificação do aquecimento global e aceleração da mudança climática.
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Esse trade-off estrutura o processo de transição energética. Essa transição de uma economia baseada no uso intensivo dos combustíveis fósseis para uma economia sustentada por combustíveis limpos encontra-se no coração da dinâmica energética que definirá a evolução do contexto energético neste século.
A maneira como se percebe, se administra e se reduz esse trade-off é fundamental na definição da necessidade, do conteúdo, do ritmo e da duração da transição energética.
Dada a grande complexidade envolvida no enfrentamento conjunto das questões energética e ambiental, a existência de distintas percepções do problema é natural. Isto implica no surgimento de visões distintas acerca da necessidade da transição em cada país e entre os países.
Essas visões distintas geram disposições diferentes para assumir os custos da transição e para mobilizar os recursos necessários para a sua sustentação.
Esse processo de heterogeneização de visões e disposições se acentua a partir da própria diversidade desses custos e da disponibilidade de recursos existente no interior das sociedades e entre países.
Dessa maneira, a percepção do problema é diferente entre os agentes e entre os países não apenas em termos da dificuldade cognitiva que lhe é intrínseca, mas também em função das situações objetivamente distintas no que concerne aos custos a serem incorridos e aos recursos a serem mobilizados na transição.
Assim, não existe uma transição única, mas várias transições possíveis.
A diferenciá-las, dois fatores cruciais: tecnologia e instituições.
No que diz respeito à tecnologia, o seu grande desafio é reduzir o trade-off; ou seja, o custo energético e ambiental da transição.
O esforço tecnológico envolve uma ampla gama de avanços necessários nas tecnologias de produção, transformação e uso da energia.
No campo da criação das condições para a manutenção do uso intensivo dos fósseis sem impactos ambientais encontra-se a captura e a estocagem de carbono (CCS). Essa seria a tecnologia que fundaria a não transição e permitiria a manutenção dos fósseis, principalmente o carvão, no centro da matriz energética mundial; em particular da matriz elétrica.
Outro esforço tecnológico associado à manutenção dos combustíveis fósseis com redução do seu impacto em termos de emissões seria o avanço na melhoria da eficiência das tecnologias de produção, transformação e utilização de energia. Enfim, lâmpadas, motores, caldeiras, fornos e centrais elétricas mais eficientes consomem e emitem menos e, em consequência, reduzem o custo ambiental da satisfação das necessidades energéticas a partir dos recursos fósseis.
Na substituição dos combustíveis fósseis pelos renováveis encontra-se o grande desafio tecnológico. Aqui, concentram-se os esforços tecnológicos da transição. Dotar os combustíveis renováveis dos atributos presentes nos fósseis, de tal maneira a garantir a ampla substitutibilidade entre eles, é fundamental para reduzir os custos energéticos da transição. E, dessa forma, viabilizá-la econômica e politicamente.
Nesse caso, trata-se de dar às renováveis o mesmo grau de disponibilidade e controle apresentado pelos fósseis; que em termos de fontes marcadas pela intermitência, implica em alterar duas das suas características essenciais: não-estocabilidade e baixa densidade.
Aqui, os esforços podem ser divididos em três áreas correlacionadas:
Estocagem – Envolve o avanço no campo das baterias, do armazenamento via bombeamento, ar comprimido, hidrogênio, etc.
Flexibilidade, abrangência e gestão da rede – Smart grid, Transmissão em alta tensão em corrente continua (HVDC), etc.
Previsibilidade – avanços na medição e modelagem dos fluxos dos ventos, do sol, das chuvas, etc.
Em síntese, se a questão chave é que não venta, não faz sol e não chove quando se precisa de energia, mas quando a natureza quer, o fundamental é aumentar grandemente a nossa capacidade de prever quando essas coisas vão acontecer, de armazenar essa energia gerada para usá-la quando se precisar, e de ir buscar essa energia onde ela estiver, independentemente de distância e escala – leia-se tanto as grandes quanto as pequenas –, mantendo a confiabilidade do sistema.
Na medida em que o avanço tecnológico hoje não garante a substitutibilidade entre as fósseis e renováveis, a redução do trade-off coloca-se nesse momento como um processo em progresso e, acima de tudo, de médio e longo prazos. (...) O texto continua no Blog Infopetro.

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