terça-feira, 3 de setembro de 2013

Autodidatismo: especialista dá dicas para estudar sem professor

Edgard Matsuki
Do UOL, em Brasília

Por muitas vezes, a vontade de aprender é maior do que a possibilidade de ter uma pessoa capacitada e com tempo disponível para nos ensinar. Com isso, cabe ao aluno se lançar à própria sorte e buscar o conhecimento. É o chamado autoaprendizado. O que pode parecer uma necessidade, na verdade apresenta muitas vantagens. É o que garante o professor Pedro Demo (doutor em sociologia com PhD na Alemanha e nos EUA).

Autor de livros sobre o assunto como "Metodologia para Quem quer Aprender" (editora Atlas), Demo afirma que o autodidatismo ajuda na criatividade e pensa que o próprio ensino tradicional deveria dar mais autonomia para o estudante. Nesta entrevista, ele dá dicas para quem quer estudar por conta.
Porém, logo avisa: não há esquema pronto para aprender por conta. O estudante é que tem de descobrir o que é melhor para ele.

Existem técnicas que podem tornar o autoaprendizado mais efetivo?

Pedro Demo - Há sugestões do tipo autoajuda que são enganosas porque prendem o estudante a esquemas. Parte da aprendizagem significa libertar-se de esquemas rígidos em nome da autonomia. Não havendo fórmula pronta, a sugestão é caprichar nas "habilidades" como saber pensar, pesquisar, elaborar, questionar, perguntar, duvidar...

Pensando nisso, como o estudante pode aprimorar essas habilidades?

Um pouco dessas habilidades vêm da própria pessoa, mas com certeza podem ser melhoradas na vida, na boa escola (que permite ao aluno refletir e criar). Exercitar a autoria é uma boa forma de a pessoa aprender a pensar, já que acaba exercitando o "saber pensar".
Para quem gosta, bons videogames ajudam a pessoa a resolver problemas. Um exemplo é o Sim City, no qual a pessoa tem que administrar uma cidade.

Como o estudante pode organizar um plano de estudo sozinho?

Quem deve pensar no plano de estudo é o próprio aluno. Ao analisar a dificuldade da disciplina que quer aprender, ele pode dividi-lo em partes e estipular um tempo de aprendizado. Para desenvolver a autonomia, qualquer pessoa precisa organizar-se, tomar iniciativa, saber pensar, questionar e se autoquestionar.
O aluno também deve pensar em quais tipos de apoio podem ajudar. Existe uma metodologia chamada Scaffolding, no qual o estudante começa com um apoio no aprendizado e cada vez menos necessita dele. Também é muito importante imergir no assunto. Uma boa forma de fazer isso é exercitar a autoria, já que para criar é preciso estudar muito.

No livro "Metodologia para Quem Quer Aprender", você cita que disciplina e indisciplina são necessárias para quem quer estudar. Por quê?

É preciso ter disciplina, porque o estudo rende melhor em condições ordenadas: com horário, com pontualidade e com coordenação.
Mas a criatividade é mais inspirada na indisciplina, na habilidade de sair da rotina. Indisciplina não significa quebrar tudo, agredir os outros, apontar confusão, mas saber divergir, perguntar, duvidar, buscar outros caminhos.

Muitas pessoas se dizem "autodidatas". Isso significa que nem todo mundo é capaz de aprender sozinho?

Há pessoas autodidatas, no sentido de que sabem aprender por si, pois possuem boa cabeça, usam lógica com facilidade, induzem e deduzem, inferem, sacam soluções. No fundo, todos podem aprender sozinhos, porque aprendizagem é algo sozinho, de dentro para fora. A escola, em geral, tolhe a iniciativa própria, porque é uma instituição autoritária e instrucionista. "Ensina", mas não cuida que se aprenda.

Em que sentido as novas tecnologias podem ajudar no autoaprendizado?

Tecnologia pode ajudar e atrapalhar. Elas servem para pesquisar, elaborar e questionar. Mas também podem ser usadas para plagiar, copiar, e enganar. Cabe ao aluno ter consciência de usá-las bem.
Além dos videogames, há bons recursos tecnológicos como programas de exercícios e apostilas. Porém, o ideal é ter consciência de que não devemos nos prender a apenas um apoio. Ficar só com internet é pobreza, porque a história tem um acervo imenso de construção de conhecimento que vem antes da web.

Por que há muitas pessoas autodidatas que se dão bem em áreas como tecnologia e negócios?

Em toda história, a tecnologia é o grande emblema da criatividade humana. De certa forma, criar o que é novo faz parte da própria tecnologia. E para criar o que é novo, há de se fazer sem professor. Neste sentido, podemos ver que a autoria ajuda muito quem busca o autoaprendizado.

Quais são as principais vantagens do estudo por conta. E desvantagens?

Vejo como principal vantagem o exercício da pessoa ter que buscar soluções para as próprias fraquezas. Com certeza ajuda no autodesenvolvimento. Por outro lado, há o risco da pessoa que faz tudo sozinha não desenvolver a autocrítica, pois não tem um nível de comparação. Só é importante também pensar em outra coisa: estudo por conta não significa isolar de tudo e todos. Quando for preciso, vale buscar ajuda.

Você acredita que o ensino da forma tradicional nas universidades pode ser substituído por novos métodos de autoaprendizado?

Deve, porque o "ensino" hoje é um disparate instrucionista. É preciso inventar sistemas de "aprendizagem", nos quais professores e estudantes se encontram para aprenderem juntos, exercitando a autoria. Ao lado do conteúdo que todo mundo precisa dominar para tornar-se profissional, é importantíssimo desenvolver habilidades autorais. Quem sabe essas habilidades, sobrevive aos tempos. Quem só escuta aula, falece na primeira esquina.

Confira os 28 sites gratuitos para aprender de Literatura a Gestão de Empresas:

1 - Agronegócio (eadsenar.canaldoprodutor.com.br/cursos) - Voltado para o empreendedorismo no meio rural, o Canal do Produtor ensina noções de gestão da propriedade, otimização de negócios e capacitação de mulheres, entre outros assuntos de interesse ao agronegócio.

2- Como funciona (www.hsw.uol.com.br) - Este site é um compêndio de curiosidades sobre o mundo em que vivemos. Seu nome em inglês é "how stuff works", mas os textos estão em português. Ele ensina como as coisas funcionam. E isso pode ser de bombas nucleares à pílula do dia seguinte, passando por motores de carro.

3- Clássicos digitais - ( www.gutenberg.org/wiki/Main_Page ) - Pelo Projeto Gutenberg, é possível acessar e-books clássicos da literatura mundial para leitura online ou download para leitura em tablets e e-readers.

4- Coursera (www.coursera.org) -Somente em inglês, o site reúne mais de cem aulas online de universidades americanas, como a Universidade de Stanford (na foto). Um sistema de busca por assunto de interesse se encarrega da localização de cursos ofertados. Não se engane: como a maioria das instituições de ensino superior, as americanas exigem muita leitura como tarefa de casa e participação ativa na interação virtual Leia mais Stanford Graduate School of Business

5- Domínio público (www.dominiopublico.gov.br) - Biblioteca digital com acervo diversificado, que inclui clássicos da literatura, como a obra completa de Machado de Assis, estudos sobre educação e teses de pós-graduação em várias áreas, entre outros assuntos. O conteúdo é baixado para o computador.  Domínio Público

6- Educadores (portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html) - Site do governo contém itens de interesse do professor e disponibiliza conteúdos multimídia, além de cursos e materiais para serem adotados em sala de aula. Acesse também a parte de "links", com sugestões de jogos educativos online, softwares de edição para aulas on-line e projetos inovadores, entre outro.s Adriano Vizoni/Folhapress

7- Empreendedorismo (www.ead.sebrae.com.br/hotsite/cursos) - Cursos abertos do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para empreendedores. Tratam do mercado de varejo, planejamento e gestão e atendimento ao cliente, entre outros temas de interesse. Thinkstock 

8- FGV online (www5.fgv.br/fgvonline/Cursos/Gratuitos) - A Fundação Getulio Vargas oferece cursos gratuitos e variados com duração de 5 horas a 30 horas. Os assuntos são, por exemplo, "sustentabilidade para professores do ensino fundamental", gestão de empresas e pessoas e a "Era Vargas". Há disciplinas de aplicação prática para o dia a dia, como organizar o orçamento doméstico e investir na aposentadoria. Jean Manzon / CEPAR Consultoria

9- Física e química (www.labvirt.fe.usp.br) - O Laboratório Didático Virtual é uma iniciativa da USP (Universidade de São Paulo). Nele, há animações sobre física e química feitas a partir de sugestões de alunos do ensino médio das escolas da rede pública. Acesse também dicas de sites interessantes e projetos educacionais. Se não conseguir abrir as animações, copie os links diretamente no browser do seu computador Marcelo Justo/Folhapress

10- Fundação Bradesco (www.ev.org.br/Paginas/Home.aspx) - O aluno pode aprender como fazer um currículo e se preparar para uma entrevista de emprego. Há ainda aulas que ensinam a usar o pacote Office, a administrar finanças pessoais e desenvolver aplicativos, entre outras opções. Thinkstock 

11- Java (jedi.wv.com.br) - Manuais, prova, exercícios, materiais de referência e videoaulas estão disponíveis neste site do Moodle do DFJUG, grupo de Java que tem entre seus objetivos ensinar de forma livre e gratuita a linguagem Java e as tecnologias a ela associadas. Os temas versam sobre bancos de dados, programação web e segurança da rede, entre outros sxc.hu

12- Khan Academy (www.fundacaolemann.org.br/khanportugues/) ? Após o sucesso do educador Salman Khan (na foto em palestra com Bill Gates), que alega ter mais de 21 milhões de videoaulas postados em seu site. Aulas de matemática, física, química e biologia foram traduzidas para o português em uma parceria com a Fundação Lemann. Quem tem inglês fluente, pode ir direto à página do Khan Academy e assistir também a aulas de economia, finanças e história. Steve Jurvetson/Flickr  

13- Livros infantis ( en.childrenslibrary.org/) - É uma biblioteca digital de livros infantis nos mais diferentes idiomas, entre eles português, inglês, espanhol, francês e alemão. A busca de títulos pode ser feita por idade; por narrativas curtas, médias e longas, por premiação e, principalmente, por idioma estrangeiro, incluindo o português. O site aceita doações e trabalho voluntário de tradutores Leandro Moraes/UOL

14- MIT (ocw.mit.edu/courses/) - O MIT OpenCourseWare disponibiliza o material online de cursos de graduação e pós de 36 departamentos do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) para consulta livre. Por esta razão, não emite certificados e nem serve como crédito para outras universidades. Somente em inglês. Divulgação/MIT

15- Moodle (www.moodle.org.br) - Rede social voltada para educadores, que podem criar cursos online, grupos de trabalho e comunidades de aprendizagem em nível mundial. Voltado principalmente para o e-learning (ensino a distância). Adriano Vizoni/Folhapress

16- Palestras TED (www.ted.com) - Centenas de vídeos tratam de temas tão variados quanto design, evolução da Aids, funcionamento do cérebro durante partidas de videogames, tecnologia e entretenimento, entre outros. O site tem como jargão "ideias que valem a pena compartilhar". Somente em inglês. Há versões em português, com pensadores brasileiros, como o TEDx São Paulo 
 www.tedxsaopaulo.com.br/Reprodução

17- Programação (www.codecademy.com/pt#!/exercises) - A plataforma ensina como fazer programação em computadores, como linguagem html, JavaScript, Phyton, JQuery, entre outras. O sistema também incentiva o aluno a se tornar um professor, formatando aulas que ficam abertas para outros usuários. Somente em inglês. sxc.hu

18- Química - (condigital.ccead.puc-rio.br/condigital/) - A PUC-RJ (Pontífícia Universidade Católida do Rio de Janeiro) disponibiliza material didático da área de química. Há animações que explicam o que são e como funcionam as pilhas, áudios que tratam do impacto da energia nuclear no ambiente ou sobre cosméticos, entre outras escolhas Rodrigo Capote/Folhapress

19- Reforço escolar (objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/2071) - Site em três idiomas (português, inglês e espanhol) disponibiliza materiais didáticos voltados para a educação infantil, o ensino fundamental e médio, o ensino superior e a educação profissional. A busca indica se o objeto de estudo é uma animação, um áudio, software educacional ou vídeo, entre outras plataformas Rogerio Cassimiro/Folhapress

20- Senai (www.senai.br/ead/transversais/) - O sistema oferece cursos de capacitação para quem está entrando no mercado de trabalho ou está inserido nele. Educação ambiental, empreendedorismo, legislação trabalhista, segurança do trabalho, tecnologia da informação e comunicação e propriedade intelectual são alguns dos materiais de estudo. Em alguns Estados, porém, os cursos estão disponíveis só em material impresso. Checa-se a disponibilidade no próprio site. Renato Stockler/Folhapress  

21- Saylor (http://www.saylor.org/) - O site não emite certificados e diplomas, mas suas 17 áreas de estudos ficam abertas para consulta pública. Há temas como psicologia, ciência política, desenvolvimento pessoal e administração de negócios, entre outras. Somente em inglês. Divulgação

22-Skype In the Classroom (https://education.skype.com/) - Promove a troca de experiências entre educadores e alunos do mundo todo. Os temas variam de assuntos mundiais até aqueles que fazem parte do cotidiano da escola, como merenda e clubes de leitura, além de ensino de idiomas. Pelo sistema de busca, dá para encontrar educadores com a mesma linha de estudo que a sua Paul Sakuma/AP

23- Traduzido (http://veduca.com.br/index.php) - A vantagem do site é ter aulas de universidades estrangeiras renomadas traduzidas para o português. Os temas variam: administração de negócios, jornalismo, direito, educação, engenharia, filosofia e religião, política e geografia, entre outros Christian Haugen

24- Unicamp (http://www.ocw.unicamp.br/) - O OpenCourseWare oferece aulas de professores da própria Unicamp (Universidade de Campinas), mas a oferta de conteúdo ainda é tímida. Marcelo Ximenez/Folhapress

25- Unesp (http://acervodigital.unesp.br/) - O material produzido pelos professores da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), com temas vinculados aos cursos e disciplinas, são reunidos neste site de acesso público. Os temas englobam estudos educacionais e científicos e acervo histórico-cultural. Reprodução

26- Univesp (http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/) - A proposta da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) é oferecer ensino superior público gratuito aos estudantes. A USP (Universidade de São Paulo), a Unicamp (Universidade de Campinas) e a Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) fazem parte da iniciativa. As admissões são por provas organizadas pelas instituições de ensino envolvidas. Reprodução/SXC

27- USP (http://www.eaulas.usp.br/portal/home) - O site tem cerca de 880 videoaulas abertas ao público em geral, em que professores da USP (Universidade de São Paulo) explicam temas para lá de complexos, divididos por áreas de estudo (Exatas, Humanas e Biológicas). O e-Aulas é um agregador que vai acrescentando, ao longo do tempo, a produção multimídia da universidade. Leonardo Wen/Folhapress

28- Yale (http://oyc.yale.edu/) - A famosa instituição de ensino tem uma série de aulas on-line gratuitas. Há estudos sobre astronomia, literatura, religiões, biologia e economia, entre outros, cujo conteúdo é explicado por professores da Yale. Andrew Sullivan/The New York Times

Fonte:

http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/01/14/autodidatismo-especialista-da-dicas-para-quem-quer-estudar-sem-professor.htm               
  

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