segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Jornalista Greenwald controla agenda do noticiário, constrange Obama e humilha Dilma

Por Mário Magalhães
do Uol


Poucas vezes na história um jornalista teve tanto poder como Glenn Greenwald, o repórter que tem divulgado os documentos colecionados por Edward Snowden, o antigo servidor da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
É certo que Bob Woodward e Carl Bernstein foram decisivos para derrubar o presidente Richard Nixon, na década de 1970. Mas eles publicavam o que iam, aos poucos, descobrindo. Agora, Greenwald administra o arsenal de informações fornecido por Snowden. Divulga-o passo a passo, avaliando os estragos. Controla a agenda, ou, como dizemos nas redações, a pauta.
Quanto mais próxima a viagem de Dilma Rousseff aos EUA, prevista para outubro, mais novidades Greenwald revela.
Seu comportamento jornalístico é legítimo. Não conheço repórter de verdade que não quisesse estar em seu lugar, com esse tesouro jornalístico à mão.
Com a veiculação a conta-gotas, o repórter com formação de advogado expõe as mentiras da administração dos EUA.
Diziam que toda a arapongagem eletrônica destinava-se a prevenir o terrorismo.
Mas vasculharam as comunicações de Dilma, que desde os tempos da ditadura não é mais catalogada como “terrorista”.
A agência enfatizou que não xeretava empresas e negócios. Como se soube ontem pelo “Fantástico”, a Petrobras foi espionada.
Para Obama, acumulam-se constrangimentos. Ele diz que esclarecerá tudo na quarta-feira. Se contar que sabia, assumirá a bisbilhotice, o que equivaleria a um ato de beligerância. Se disser que tudo ignorava, merece um atestado de panaca.
A situação de Dilma é pior, e somente por escolha dela. Até aqui, a presidente limitou-se à retórica combativa, sem tomar atitude à altura da agressão. No momento, isso significaria, serenamente, cancelar a visita à Casa Branca.
Não custa repetir: se o espionado fosse Obama, ele não viria ao Brasil, e seu gesto seria aplaudido.
Temerosa de reagir de modo altivo, Dilma se humilha. Pode ser pior: imaginemos, no dia de sua chegada a Washington, mais um furo de Glenn Greenwald, mostrando novas teias do abuso da NSA. A mensagem não escrita será: façam o que quiserem com o Brasil, porque nascemos com o DNA da submissão.

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